O Museu de Arte Sacra de São Paulo é fruto de um convênio celebrado entre o Governo do Estado e a Mitra Arquidiocesana de São Paulo, em 28 de outubro de 1969 e sua instalação data de 29 de junho de 1970. A partir desta data, o Museu de Arte Sacra de São Paulo passou a ocupar a ala esquerda térrea do Mosteiro de Nossa Senhora da Imaculada Conceição da Luz e a antiga Casa do Capelão, antes administração, e onde, desde 1999, está exposto o acervo de presépios do museu.
A parte mais antiga do complexo foi construída sob orientação de Frei Antônio de Santana Galvão para abrigar o recolhimento das irmãs concepcionistas, função esta que também se mantém até hoje.
O acervo do museu começou a ser formado por Dom Duarte Leopoldo e Silva, primeiro arcebispo de São Paulo, que a partir de 1907 começou a recolher imagens sacras de igrejas e pequenas capelas de fazendas que sistematicamente eram demolidas após a proclamação da República. Na década de 1970, foi possível ampliar significativamente esse acervo.
Atualmente, as principais atribuições do Museu de Arte Sacra de São Paulo são: recolher, classificar, catalogar e expor convenientemente objetos religiosos cujo valor estético ou histórico recomende a sua preservação; expor permanente, pública e didaticamente seu acervo; promover o treinamento, a capacitação profissional e a especialização técnica e científica de recursos humanos necessários ao desenvolvimento de suas atividades; incentivar e apoiar a realização de estudos e pesquisas sobre arte sacra e história da arte; promover cursos regulares, periódicos ou esporádicos de difusão, extensão e de treinamento sobre temas ligados a seu campo de atuação.
O Mosteiro da Luz
A idéia de sua construção partiu da Irmã Helena Maria do Espírito Santo do Antigo Convento de Santa Tereza, por volta de 1772. Esta afirmava ter visões de Jesus pedindo a construção de um lugar de recolhimento. Frei Galvão, confessor da Irmã confirmou a veracidade das visões após discussão com sacerdotes e teólogos em São Paulo.
Para definir o melhor lugar para a construção foram então tomadas as primeiras medidas com o Governador do bispado, o Cônego Antônio de Toledo Lara e o Governador da Capitânia, o Capitão-General D. Luiz Antônio de Souza Botelho e Mourão, o "Morgado de Mateus".
Em 1774 existia nos "Campos do Guaré", atual bairro da Luz, uma capela em homenagem a Nossa Senhora da Luz, construída por Domingos Luís, O Carvoeiro em 1603. Morgado de Mateus já tinha conhecimento desta capela, pois quando chegou a São Paulo em 1765 a encontrou totalmente abandonada e ordenou seu restauro, bem como a construção de algumas casas ao seu redor para a celebração da festa de Nossa Senhora dos Prazeres. Para a fundação do Recolhimento, doou o terreno através de uma Carta de Sesmaria.
Uma lei do Marquês de Pombal proibiu a abertura de qualquer tipo de convento ou mosteiro. Então Frei Galvão encaminhou as freiras para que ocupassem as casas em torno da capela, não oficializando o local como religioso, mas sim como um recolhimento onde morava um grupo de senhoras que desejavam viver sob os conselhos evangélicos.
Essas casas foram ocupadas em 2 de fevereiro de 1774 sob o nome de Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição da Divina Providência.
Pouco tempo depois Frei Galvão decidiu providenciar uma nova construção, pois a capela ameaçava ruir e as casas estavam inabitáveis. Projetou um novo edifício. Durante sua construção, além dos taipeiros e dos escravos emprestados pelas famílias das freiras, pôs mãos à obra e convidou as irmãs para que fizessem o mesmo.
Em 25 de março de 1788, as religiosas se transferiram para o novo prédio. No entanto foram precisos mais 14 anos para terminar a Igreja.
Durante toda a construção, Frei Galvão viajava constantemente para o interior arrecadando fundos. De acordo com o Padre Alberto Ortmann "...o convento da Luz é obra exclusiva de Frei Galvão. Foi ele o único diretor da construção e continuamente lhe assistia aos serviços, auxiliando-a com suas próprias mãos".
Após sua morte em 1822, seus sucessores não executaram o plano original que contava com duas torres para a igreja, conforme o "risco" deixado por ele na parede do Mosteiro da Luz.
O Mosteiro da Luz em 1862; fotografia de Militão Augusto de Azevedo
Recolhimento da Luz, óleo sobre tela de Benedito Calixto (1853-1927)
Museu de Arte Sacra de São Paulo exibe raridades em marfim
Sagrado Marfim – O Avesso do Avesso" destaca a historicidade de peças que remontam à antiguidade, às artes africana e asiática e aos objetos artísticos e litúrgicos na Europa medieval e moderna
O Museu de Arte Sacra de São Paulo – MAS/SP, instituição da Secretaria da Cultura do Estado, inaugura "Sagrado Marfim: O Avesso do Avesso", sob curadoria de Jorge Lúzio e Maria Inês Lopes Coutinho. Composta por cinquenta e três peças pertencentes aos acervos do MAS/SP, Coleção Ivani e Jorge Yunes e Fundação Ema Klabin, a mostra propõe repensar o uso do marfim nas obras de arte e em seus desdobramentos iconográficos, destacando sua historicidade que remonta à antiguidade, às artes africana e asiática e aos objetos artísticos e litúrgicos na Europa medieval e moderna – o que reverbera nas produções encontradas em inúmeras sociedades interligadas pelo sistema colonial.
Raras obras de arte, de tamanhos diversos, com exemplares dos séculos XVII, XVIII e XIX. A partir de uma perspectiva histórica, esta nova mostra do Museu de Arte Sacra de São Paulo foi concebida no intuito de estimular diálogos multidisciplinares com a História Social da Arte, a Antropologia, a Museologia, os Estudos Afro-asiáticos, a História Ambiental, o Patrimônio e a Arte Sacra. Nos dizeres de José Carlos Marçal de Barros, diretor executivo do MAS/SP: "Segundo o Antigo Testamento, o Rei Salomão mandava trazer marfim de Társis, nas rotas do Oriente. Fídias, o incomparável artista grego, utilizou marfim em uma das mais importantes estátuas da Grécia Antiga, a Atena Pártenos, para homenagear a deusa no Partenon. E em tempos mais recentes, o magnífico Demetre Chiparus utilizava metal e marfim em suas estatuetas indiscutivelmente belas. As obras mais afamadas são as chamadas criselefantinas em bronze e marfim. Tão rica e antiga é a utilização do marfim em obras de arte que uma exposição que pretendesse apresentar a sua história seria praticamente impossível".
No âmbito das relações entre as metrópoles com suas colônias, assim como nos vínculos intracoloniais e intercoloniais, o marfim configura uma categoria histórica milenar, desde a antiguidade, na África e na Ásia, até sua circulação na Europa. O entalhe em dentes de mamíferos possui origem remota, associada à ancestralidade das culturas que confeccionavam objetos para inúmeros fins. Como explica o curador Jorge Lúzio: "Nas rotas que interligavam reinos e entrepostos no continente africano, ou entre os circuitos de mercantilismo que integravam o Mediterrâneo ao Índico, sempre esteve o marfim como item dos mais apreciados e valiosos, por possibilitar uma incomparável plasticidade e um efeito visual cuja precisão nas formas e nas linhas resultavam numa expressividade de imagens e reproduções jamais obtidas noutra matéria prima".
Não obstante a arte em marfim possuir uma sofisticação visual inigualável, seu antagonismo reside no debate ambiental, ao se repensar como a ordem global e os sistemas econômicos se apropriaram das tradições, em um processo de mercantilização dos recursos naturais e de banalização da vida - uma vez que se chegou ao século XX com uma demanda e um consumo de objetos em marfim no limite da sobrevivência dos animais. "Assim, a exposição apresenta, entre suas contribuições, a oportunidade de, ao observar raríssimas esculturas e obras de incontestável importância do patrimônio colonial, relembrar que entre as funções da Arte está o despertar da consciência histórica, para que o sentido de preservação de todas as formas de vida, dos legados históricos e da memória possam contribuir na produção de conhecimento e na promoção da cultura, sensível a aprender com o passado, e sobretudo, comprometida com os desafios do tempo presente", conclui Jorge Lúzio.
Mais sobre o assunto, nas palavras da diretora técnica do MAS/SP e também curadora, Maria Inês Lopes Coutinho: "A palavra marfim tem sua procedência provável do árabe, casmal-fif, sendo fif: elefante e casm: osso, significando osso de elefante. A organização social dos elefantes é um matriarcado. Os machos jovens andam em bandos de solteiros e os velhos vivem solitários em locais onde há água e comida. São muito sensíveis. A gestação dura 22 meses; quando nascem, pesam 100 quilos; medem um metro de altura; o coração pesa 25 quilos e mamam dez litros de leite por dia. Provêm da África, Ásia e Filipinas. A função da presa é de buscar alimentação, sal e água, escavar em busca de minerais necessários a sua sustentação e defesa contra eventuais ataques, além de manter a sua identidade dentro da manada. Em sua composição há fosfato de cal, de magnésio, carbonato de cálcio e fluoreto de cálcio. A temperatura ideal de conservação é 18 graus C e 60% de umidade relativa".
PAULISTINHAS
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