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Este Blog, do Projeto Prex-Unitau Taubaté Tempo e Memória, tem como objetivo ser um canal de troca de informações sobre a História e a Memória da Região Metropolitana do Vale do Paraíba (RMVale).

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

ARTIGO



Série Raízes do Brasil
PARTE 1

 

Os Bestializados e a República que não foi


            Nicolau Sevcenko, no prefácio à obra de José Murilo de Carvalho, “Os Bestializados – O Rio de Janeiro e a República que não foi”, discorre sobre as ilusões republicanas.

            Com a abolição do trabalho escravo, em 1888, e com a proclamação da República em 1889, a cidade do Rio de Janeiro passa por profundas transformações. Segundo José Murilo de Carvalho: “O fim do Império e o início da República foi uma época caracterizada por grandes movimentações de ideias, em geral importadas da Europa. Eram ideias mal absorvidas ou absorvidas de modo parcial e seletiva, resultando em grande confusão ideológica”. (CARVALHO, 1999 p. 42).
            José Murilo de Carvalho, na obra citada acima, discorre sobre, no capítulo primeiro, a cidade do Rio de Janeiro, dando ênfase às transformações urbanas e culturais. No segundo capítulo, analisa as várias concepções de cidadania naquele contexto de época. O terceiro capítulo ressalta o mundo dos cidadãos ativos e inativos e a exclusão dos últimos da vida política. No quarto capítulo, descreve os motivos da Revolta da Vacina. Finaliza seu trabalho no quinto capítulo, mostrando que havia algo, no comportamento do povo, que não se encaixava no modelo e na expectativa dos republicanos.
            Nessa nova conjuntura urbana, várias questões estavam na ordem do dia: o rápido crescimento da cidade, o desequilíbrio entre o número de homens e mulheres, muitas pessoas desempregadas ou mal remuneradas. Os problemas de infraestrutura urbana, de abastecimento de água, de saneamento e de higiene tinham como consequências as epidemias de varíola, febre amarela, malária e tuberculose. O custo de vida era alto e a valorização da terra e dos imóveis crescia cada vez mais.
            Os governos (federal e municipal) investiram na modernização e urbanização do Rio de Janeiro, abriram grandes avenidas, retirando os cortiços, embelezando o centro, mas não incorporaram as reivindicações e as necessidades da grande maioria do povo, ao qual era negado o direito à cidade. Com a especulação imobiliária em alta, as elites ganhavam muito dinheiro, e os ex-moradores dos cortiços foram obrigados a, clandestinamente, ocupar os morros.
            Os idealizadores da nossa República não permitiram que se formassem cidadãos ativos, com direito à cidade, isto é, à vida urbana e à participação política. A cidade tornou-se uma mercadoria de difícil acesso. Morar no centro do Rio de Janeiro tornou-se cada vez mais difícil. Muitos ficaram à margem da história, nas praças e ruas, sem moradia e sem trabalho digno. Segundo o autor: “Trata-se do problema do relacionamento entre o cidadão e a própria atividade política”. O povo, que deveria ter sido protagonista dos acontecimentos e incorporado às melhorias urbanas, sente-se excluído e não compreende o que se passa.
            Já na Grécia Antiga, de modo especial em Atenas, a cidade foi o lugar privilegiado do desenvolvimento da cidadania. Desde seus primórdios, a filosofia grega se liga à cidade, com suas prosperidades e suas limitações.
            O Rio de Janeiro, em 1890, era a maior cidade do país, com mais de 500 mil habitantes. Capital política e administrativa, centro das grandes decisões, a cidade passou a ser o centro da vida política nacional.
            Passada a euforia inicial, provocada pela proclamação da República, a possibilidade de maior participação na vida do País, aos poucos foi sendo frustrada. Desapontaram-se os intelectuais, os operários tiveram dificuldades para organizarem e participarem da vida política, e a participação do povo podia ser encontrada somente nas festas populares, como as da Penha e da Glória, e nas escolas de samba e rodas de capoeira.
            O povo de ontem e de hoje é a face oculta da “nossa República”. As cidades, no seu planejamento e no orçamento público, permanecem alheias às prioridades da grande maioria da população.

 

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