Série Raízes do Brasil
PARTE 2
Prof. Dr. José Murilo de Carvalho
Foto divulgação - Companhia das Letras
Os Bestializados e a República que não foi
Os
funcionários públicos e a República
Outro grupo que merece referência é o dos funcionários
públicos, operários dos arsenais do Exército, da Marinha, das ferroviárias, dos
gráficos, da casa da moeda, portuários. Eles viam na República uma oportunidade
de redefinir seu papel político.
Em 1890, criaram o Partido Operário, abrigando também
operários do setor privado. Havia disputas entre líderes operários, como França
e Silva, que lutava por um partido controlado pelos próprios operários, e o
tenente José Augusto “Vinhaes”, que esteve envolvido em diversas greves
políticas, como as dos ferroviários, em 1891, e as dos estivadores, carroceiros
e ferroviários, em 1900. Ele elegeu-se para constituinte com apoio dos
operários, forçou o governo a mudar o Código Penal sobre as greves e a
coligação operária, lutou pelo aumento dos salários e defendeu a ampliação de
votos ao povo em geral, servindo de intermediário entre os operários e o
governo.
A
influência do Positivismo
Outro aspecto que o autor ressalta é a influência do
Positivismo em quase todas as lideranças republicanas. A noção positivista de
cidadania não incluía os direitos políticos, não aceitava os partidos e a
democracia representativa. Os direitos não podiam ser conquistados, o povo
deveria ficar à espera da ação iluminada do Estado.
Houve várias tentativas de formar partidos socialistas
operários no Rio e em São
Paulo, nas duas primeiras décadas republicanas. As propostas
eram: maior participação e reformas sociais.
A rigidez e a resistência em ampliar a cidadania do
sistema republicano só deixavam ao operário a opção entre o socialismo
reformador – os que defendiam cooperação com o governo – e o anarquismo
revolucionário – os que rejeitavam totalmente o sistema político.
Os anarquistas, numa visão coletivista, eram pela
revolução social, pela abolição da propriedade privada e do Estado, mas
admitiam o sindicalismo como instrumento de luta. Os anarquistas
individualistas, por sua vez, pregavam a abolição do Estado, porém eram contra
toda forma de organização que não fosse espontânea, além de desejarem a
manutenção da propriedade privada após a revolução.
Tanto estes como aqueles repudiavam o Estado e tinham
aversão à luta política por meio de partidos e eleições.
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